Essa pergunta, à primeira vista simples, carrega uma profundidade incômoda: se você se observasse de fora, se enxergasse como um possível parceiro, você escolheria estar com você mesmo? Estaria disposto a lidar com suas sombras, acolher suas inseguranças, valorizar suas qualidades e construir uma vida ao lado de quem você é hoje?
Vivemos em uma era onde a busca pelo "outro ideal" consome tempo, energia e expectativas. Procuramos alguém que nos entenda, que seja gentil, fiel, maduro, divertido, emocionalmente disponível, financeiramente estável, espiritualmente evoluído... Mas quantas dessas qualidades exigidas também estão presentes em nós? O problema não está em querer o melhor, mas sim em esperar do outro o que ainda não cultivamos em nós mesmos.
Relacionamentos funcionam como espelhos. A forma como tratamos o outro muitas vezes é reflexo de como nos tratamos internamente. Se somos impacientes, exigentes ou negligentes com nós mesmos, tendemos a agir da mesma maneira com quem se aproxima. Por isso, antes de buscar o parceiro ideal, é fundamental se tornar alguém que valha a pena ser encontrado.
Se você se atrasasse, perdoaria? Se você tivesse crises de ciúme, entenderia? Se você não soubesse se comunicar direito, suportaria? Se você fosse inseguro, suportaria amar alguém assim? Essas questões podem ser desconfortáveis, mas são extremamente necessárias para quem busca viver relações saudáveis.
Estar com você mesmo é sobre reconhecer que há defeitos, mas também virtudes. É sobre desenvolver empatia, responsabilidade afetiva, escuta ativa e equilíbrio emocional — características que todo mundo deseja em um relacionamento, mas que raramente se cobra de si mesmo.
Ser alguém que se escolheria não significa ser perfeito, mas estar em constante evolução. É ter consciência do impacto que se causa nos outros, é aprender a pedir desculpas, a melhorar comportamentos, a respeitar limites e principalmente: a se amar de verdade.
Amor-próprio não é apenas se cuidar esteticamente ou repetir frases motivacionais no espelho. É também fazer escolhas alinhadas com os próprios valores, não se sabotar, se priorizar e saber quando algo (ou alguém) não te faz bem — mesmo que doa.
Estar sozinho não é sinônimo de solidão. Ao contrário, pode ser uma oportunidade poderosa de mergulho interno. É no silêncio das pausas afetivas que conseguimos nos ouvir, entender por que escolhemos mal, por que aceitamos menos do que merecemos, por que temos tanto medo de ficarmos sozinhos.
É nesse tempo consigo mesmo que percebemos: muitas vezes, cobramos do outro o amor que não sabemos nos dar. Exigimos presença quando nós mesmos não estamos presentes em nossa vida. Queremos atenção quando ignoramos nossas emoções. Desejamos ser prioridade na vida do outro enquanto nos colocamos sempre por último na nossa.
Ao fim de tudo, a pergunta que ecoa não é sobre o outro. É sobre você. Com o seu humor, suas reações, sua forma de lidar com conflitos, sua maneira de demonstrar amor — você escolheria viver ao seu lado? sp love
Essa autorreflexão não vem para te ferir, mas para te libertar. Libertar das ilusões, das idealizações, das repetições inconscientes. Ela convida ao amadurecimento, à consciência e ao amor real — aquele que começa dentro, mas transborda para fora.
Relacionamentos saudáveis não se constroem apenas com química, mas com responsabilidade, respeito e autoconsciência. E tudo isso começa quando você pára de procurar o amor perfeito e começa a se tornar alguém que sabe amar — inclusive a si mesmo.